Como um conceito de desenvolvimento pessoal que se popularizou na área de desenvolvimento de software pode ser a chave para uma carreira.
Expressão que tem se popularizado no mundo do desenvolvimento de carreira nos últimos anos, o chamado "Profissional T" diz respeito não a uma área de atuação específica ou a aspectos organizacionais das empresas, mas à maneira de como ele organiza o próprio desenvolvimento pessoal. Ou seja, mais do que um jeito de enxergar um método de trabalho de uma pessoa, os ditos profissionais T, I ou X são classificados assim a partir do conhecimento técnico adquirido para a função a qual eles exercem.
Ainda que essa descrição tenha se tornado mais relevante recentemente, entretanto, o termo foi utilizado antes disso. Internamente por uma empresa de consultoria norte-americana chamada McKinney & Company para o recrutamento de profissionais e mais popularmente em 1991 num artigo sobre o tema, publicado no jornal britânico The Independent.
Sempre para descrever um tipo de profissional interdisciplinar, com conhecimentos abrangentes além de uma área de especialização central, o conceito ganhou força no mundo do desenvolvimento de software dos anos 2010s para cá.
No chamado de Desenvolvimento ágil de Software mais especificamente (também conhecido como Método ágil). A ênfase desse tipo de elaboração está voltada para comunicações constantes e em tempo real. Não com um foco num resultado perfeito mas tendo a funcionalidade primária em primeiro lugar. Ambiente perfeito para que um profissional com uma perspectiva de conhecimentos mais ampla brilhar.
Mas do que se trata exatamente essa ideia do "T-shaped professional"
A melhor forma de entender, antes de entrar em qualquer formato específico, é estabelecer que a definição diz respeito a estudo. Às habilidades, formações, aptidões e especializações de cada profissional.
Dito isso. Se alguém estuda sempre na mesma área, se especializa para se tornar uma referência em algum campo de conhecimento técnico ou teórico e não foge muito desse eixo central na forma de se aprimorar, essa pessoa é considerada um profissional em I. Ou seja, toda a busca profissional dela não foge muito de áreas específicas à sua "área de atuação". O profissional T, diferente disso, é mais versátil, mais generalista, tendo um conhecimento mais amplo em áreas não diretamente ligadas a isso mas que ajudam a dar suporte ao que ele faz de melhor.
Uma confusão comum que se faz a partir desse conceito é na parte das habilidades mais generalistas (do traço horizontal do "T"). Isso porque pode ser natural chegar a uma impressão equivocada de que "vale tudo" quando se pensa na definição das palavras. Conhecimentos gerais, paralelos, adjacentes etc. Mas é importante que esse know how dê algum suporte à especialidade principal. Se você é um advogado, por exemplo, o conhecimento que você pode ter de marcenaria, culinária ou a habilidade de jogar futebol não necessariamente vão ser de grande ajuda profissional.
Como se tornar um profissional T?
O essencial é não perder o foco. Buscar conhecimentos que implementem as habilidades centrais. Usando o exemplo do advogado: habilidades em gerenciamento de projetos, design thinking, liderança, negócios e tecnologia podem potencializar a especialização legal.
O curador de conteúdo da área de recursos humanos da O4B, Odoardo Carsughi, explica que o eixo vertical do T (ou o "I" ) do profissional é uma âncora que serve para estabilizar o desenvolvimento pessoal: "É imprescindível que se defina a âncora da carreira, pois ela é a base forte de cada profissional". Ainda segundo ele, qualquer um pode se desenvolver para esse lado, mas quem já possui uma curiosidade natural em conhecer essas áreas adjacentes tem maior facilidade neste processo.
Ele defende que é importante fazer uma auto avaliação antes de qualquer coisa. Das próprias aptidões e dos interesses de carreira e de vida. O que ajuda quem pode acabar se frustrando por não desenvolver tanto ou seu lado "I" de profissional super especializado.
Para evitar uma perda de foco de carreira nessa busca por conhecimentos mais amplos, o curador defende que ter uma disciplina de estudos é o melhor caminho. "Tem que definir o tempo a ser investido na busca do conhecimento adicional e não se deixar levar pelo puro interesse de conhecimentos afins".
Existe uma terceira via?
Para quem conhece e estuda carreiras já há muitos anos, sabe que não existem dicotomias simples na hora de definir as melhores formas de se desenvolver e de construir uma carreira que tenha um impacto positivo em quaisquer áreas. Por isso é importante esclarecer que o profissional T ou o profissional I são maneiras de se organizar e de visualizar melhor os objetivos individuais de cada um e não devem servir como amarras para as pessoas ou para as empresas.
Dentro desses conceitos de desenvolvimento, entretanto, vale citar que além dos profissionais especialistas ou semi generalistas como o T, existe o que é chamado de "Profissional X".
Menos habitual do que os dois citados anteriormente, o X é menos voltado para aplicações mais práticas dos próprios conhecimentos, por mais essenciais que eles sejam para a sua posição. Isso porque elas se tornam ferramentas pessoais de gerenciamento. Odoardo explica que o X é "aquele que, além de ser reconhecido como um T, demonstra capacidade de liderança. Podendo ser um líder de Ts e de Is em uma empresa".